11 de novembro de 2012

BONNIE, A GATA ARISCA


Naquela época eu trabalhava no turno da noite e, pela manhã, bem cedinho, ao deixar o trabalho, fui ao supermercado que já estava aberto. Próximo da porta ouvi miados. Não tive dúvidas: me pus de joelhos pra olhar embaixo de uns engradados e vi um gatinho escondido lá. Deveria estar faminto, então comprei uma linguiça pra atraí-lo e deu certo!
Ela (e não ele) era um bebê lindo: bege, rajada e, tendo olhos azuis como os da Monica, foi então batizada de “Bonnie”!
Levei-a para casa onde eu iria iniciar o ritual de apresentação aos inúmeros cães e gatos que já tinha. No entanto, ao entrar na varanda, com o alvoroço dos cães latindo, aquela doce criaturinha se assustou e “virou uma onça”! Ela enterrou suas garrinhas afiadas nos meus braços mas como ainda não se sentia segura, abocanhou meu dedo mindinho. Eu sacudia a mão pra que ela soltasse e mais ela mordia, pendurada no meu já miserável dedinho, que ficou inflamado por uma semana! Ao mesmo tempo, aquela personalidade obstinada e lutadora me conquistou para sempre!
A mensagem que a Bonnie deixou pelos 6 anos que viveu em nossa companhia: “Não me tire da minha área de conforto ou quem vai se sentir desconfortável é você!”
Ninguém segurava a Bonnie em casa se ela não quisesse estar lá. O que ela gostava mesmo era andar pelo campo, achar um lugar ensolarado pra se deitar na grama e curtir a liberdade que tinha. Fazia amizade com gatos da vizinhança e parece que ela sabia escolher seus amigos.
Vez ou outra ela tinha um tipo de recaída e voltava prá casa cheia de carinhos para dar (ou cobrar), roçava o focinho num cobertor fofo e quase da cor dela que eu tinha na cama. Ficava assim por horas; acho que se lembrava da mamãe gata.
Os anos passaram e eu me mudei daquela casa com todos os meus “pets”. Dizem que os cães se afeiçoam ao dono, os gatos a casa. Tentei manter todos meus gatos dentro da nova casa o mais tempo possível para que eles se acostumassem ao novo lar, mas isso contrariava o espírito livre da Bonnie. Eu lia nos olhinhos dela que a liberdade lhe faltava, então abri a porta, e ela ia e vinha a seu bel prazer. Durante um ano passeava pelos campos de dia e voltava a noite. Daí começou a espaçar as voltas para casa mas parecia bem, independente como sempre. Um dia não voltou, nem depois de uma semana ou um mês.
Nem chorei pela partida dela porque, na verdade, nem sei se ela partiu mesmo. Deve ter achado uma outra casa mais aconchegante e amigos gatos para passear com ela.
Por via das dúvidas ainda guardo um pedaço do cobertor preferido dela; vai que ela sente saudades e vem me visitar, né?









Bete Saraiva
Nov/2012

Um comentário:

Deixe seu comentário aqui.